Parabéns Guamaré pelos os 416 de colonização
Por Jandir Candeas
Hoje nossa cidade está de Parabéns. Completa 416 de Povoação/Colonização. Sabemos que ela já era conhecida e constava nos Mapas dos navegadores europeus, antes do Descobrimento do Brasil em 1500. Por ser um “ponto estratégico” em nosso litoral, foram suas Salinas Naturais que atraíram os descobridores, pois o sal era uma riqueza que lhes faltava e para adquiri-lo na Costa da África, era uma aventura perigosa, pois tinham que contornar o perigoso “Cabo das Tormentas”.
Com a descoberta do novo Continente, o acesso era garantido, uma vez que os ventos os traziam direto para cá. Guamaré era rodeada de sal natural, espraiado, como diziam que levavam quantos navios quisessem, que o sal se recriava naturalmente.
Nossa terra era povoada de índios que foram miscigenados com esses europeus, formando uma mistura de raças, que nos orgulha. A Capitania do Rio Grande do Norte foi doada aos portugueses João de Barros e Aires da Cunha, os quais tentaram por duas vezes tomar posse das terras, entrando pelo Rio Potengi, entre Natal e Redinha, mas os índios Potiguares, com ajuda dos franceses que encontravam-se ali instalados, como invasores, não permitiram.
A Capitania foi devolvida ao Rei de Portugal, sendo exigida indenização pelo prejuízo que os donatários tiveram com esquadras e homens. Voltou então a ser uma Capitania Real, enquanto Pernambuco e Paraíba progrediam. No final do ano 1597, o Rei ordena que os Capitães de Pernambuco e Paraíba, formassem tropas e expulsassem os franceses e apaziguassem os índios e conquistassem a Capitania do Rio Grande do Norte.
Enquanto isso, nesse século de 1500, Guamaré era explorada, povoada, miscigenada, mas não havia Governo no RN. Em 25 de dezembro de 1597, chega a esquadra para colonizar e tomar posse do RN.
Com ajuda de Jerônimo de Albuquerque Filho, que era um mameluco, filho de Jerônimo de Albuquerque e da índia Tabajara, de Pernambuco, Maria do Espírito Santo, o qual conseguiu expulsar os franceses e catequisar os índios Potiguares, pois ele era conhecedor da sua língua e costumes. Em 1598, já iniciado o Forte dos Reis Magos, Natal dava os primeiros passos. Posteriormente, iniciava a doação de terras aos portugueses que desejavam explorar e habitar, trazendo suas famílias.
Guamaré torna-se conhecida do Capitão-Mór Jerônimo de Albuquerque, em 1603, quando o Capitão Pero Coelho, que ganhou a posse da Capitania do Ceará, sendo expulso dessa terra, pelos índios locais, perdeu muitos homens e mulheres em combate, fugiu com sua família e os soldados e escravos que restaram, em uma saga pelo litoral, passando fome e sede, caminhando pelas areias quentes, como em um deserto. Perdeu o filho mais velho, nas “terras das salinas”, pois não tinha forças para caminhar. Conseguiu salvar-se nas terras de Aguamaré, pois avistaram cacimbas de água doce, onde mataram a sede e a fome comendo aratus crus e peixe atravessando a lama, para apanhá-los. Nós sabemos a área de praia onde o fato ocorreu.
Passados alguns dias, continuou a caminhada na direção do Forte dos Reis Magos caminhando pelas salinas naturais. Ao chegar no destino desejado, contou ao Capitão Jerônimo de Albuquerque Filho, sobre a vastidão das Salinas Naturais de Guamaré e que as mesmas já eram conhecidas e exploradas por europeus de vários países. Então, o Capitão-Mór fez a doação das mesmas para seus filhos Antônio e Mathias de Albuquerque, no dia 20 de Agosto de 1605, sendo a Sesmaria de Número 85.
Guamaré também foi ocupada durante a Invasão Holandesa. Os holandeses, instalados no Recife, ocuparam depois o Forte dos Reis Magos em Natal, no período de 1633 a 1654. A documentado da época mostra a ocupação das Salinas de Guamaré, ocorreu em 1642 até o final da Invasão.
No Mapa descrito do litoral do RN até o Ceará, pelos chefes indígenas ao Comandante holandês, indicava a entrada dos Rios e a única salina conhecida era Guamaré, como consta no Mapa do Geógrafo Jorge Marcgrave.
O Comandante Elbert Smient, residiu nessas terras, onde chamou de “Huys der Wostyne – Casa do Deserto”. Sabemos que a paisagem era branca de sal e areia das Dunas. Foi em Guamaré, realizada pelos holandeses, a primeira experiência de sal “aprisionado em rego”, foi realizada pelo respectivo Comandante em Guamaré, que depois estendeu para as terras que são hoje de Macau e Mossoró, surgindo então a exploração de sal de forma artificial, em baldes, como encontramos atualmente, pois as terras já eram salgadas e facilitou o cultivo.
Após a expulsão dos holandeses, o Rei de Portugal expandiu a doação das terras em Sesmarias para ocupação e interiorização do País. As terras de Guamaré, foram pedidas pelos nossos antepassados, para o cultivo do sal e pecuária. Somos os descendentes legítimos dessa miscigenação. Guamaré foi importante nessa ocupação do interior e era um porto natural e por ele entrava tudo para o passadio desses povoados. Não havia povoação em Macau, Mossoró, Assú ou outras cidades, sendo que para suas ocupações, houve a guerra contra os indígenas habitantes.
Guamaré era parceira da Ilha de Manoel Gonçalves, a qual ficava à frente de Macau, tinha uma Comandância, administração própria e era responsável pelas povoações em volta. Nossas famílias eram parentes e na Ilha também havia uma Capela de Nossa Senhora da Conceição, onde nossos antepassados iam casar ou batizar, quando vinha um pároco. Da mesma forma na Capela de Guamaré, eles vinham realizar essas atividades quando um sacerdote vinha celebrar em Guamaré. Os padrinhos eram os mesmos parentes, como mostram os Livros guardados na Cúria Metropolitana. Com o avanço das marés, a Ilha ela foi inundada, passando seus moradores para a Ilha seguinte, que é Macau.
Nesse período, tem um registro importante, de que por um movimento dos pescadores de Guamaré, que não mais queriam ser mandados pela Comandância da Ilha de Manoel Gonçalves, fizeram um Abaixo-assinado, endereçado ao Príncipe Regente D. João, que ainda morava em Portugal, para que desligasse Guamaré da Ilha e criasse sua própria Comandância.
Do Governo Geral dp Brasil, veio a resposta e foi criada a Comandância de Guamaré, separando-a da Ilha de Manoel Gonçalves, dando autonomia de administração, nomeando como Comandante o Capitão José de Brito Macedo, que já morava nela, dando-lhe soldado, armas e tudo o que precisasse para fazer boa administração. Esse fato foi reconhecido hoje, após a pesquisa que fiz para lançar o Livro: Guamaré e o Mar – sua relação com a Ilha de Manoel Gonçalves, como a primeira Colônia de Pescadores no Brasil, já que foi registrado o fato.
Vê-se que Guamaré é mais antiga que os municípios de Assú, Angicos e Macau, a quem pertenceu em Comarca. Destacamos as figuras de Joaquim Álvares da Costa, Francisco Martins de Miranda, como Vereadores de Guamaré nesse período colonial, André de Souza Miranda, como Juiz de Paz na Ilha de Manoel Gonçalves, Guamaré e Macau, sempre lutando pela nossa independência.
Outros fatos históricos ocorreram no período do Brasil Império. Guamaré tentou ser Villa Imperial de Guamaré, o que lhe dava autonomia administrativa, provando ter condições de manter-se, porém foi negado pela Assembléia Legislativa, com a justificativa de ser pouco habitada. Apenas em 07 de Maio de 1962, foi emancipada, desligando-se do município de Macau, atendendo a um interesse político do Governo da época, sem conhecimento da população local, ficando sem Prefeito até dezembro do mesmo ano, quando foi nomeado o Prefeito para instalação de fato do Município, que até então estava sob o comando do Governo Estadual. Em outubro de 1963 ocorreu a eleição para o primeiro Prefeito constitucional, o qual ocupou o cargo em Janeiro de 1964.
Como filha natural de Guamaré, descendente legítima dessas famílias que lutaram por essa cidadania justa, quando vi de perto a luta do meu pai, Manoel Lucas de Miranda, para que nosso povo tivesse condições de melhores dias, pois cuidava de todos dando-lhe trabalho, saber, saúde e respeito.
Foi representante de Guamaré na Câmara Municipal de Macau por mais de um mandato, sem receber salário, pois era um serviço prestado, como fizeram seus antepassados. Para assistir as Sessões, deixava suas atividades em Guamaré, ia utilizando como transporte um jumento, cavalo ou barco, até Macau, onde permanecia vários dias. Amou e respeitou Guamaré, passando para nós, seus descendentes, toda a história que ouviu dos seus pais, para que não se perdesse no tempo.
Assumi essa responsabilidade e coloquei-me como essa transmissora, diante da farta documentação que nos deixou. Vi que não era justo os filhos de Guamaré não saberem da importância histórica de nossa cidade e das pessoas que por ela lutaram. Outros municípios cresceram ao redor, bem mais novos que ela, mas Guamaré tinha que ter seu nome na História do Brasil, na História Geral e Regional. Fiz uma pesquisa documentada e busquei os Órgãos de História que pudessem atestá-la.
Não tinha como dizer ao contrário. Guamaré foi reconhecida como tendo o início de sua Povoação/Colonização, a data de 20 de Agosto de 1605, quando de fato e de direito, teve dois donatários portugueses como sesmeiros ocupantes e a Capitania já tinha Comandante, embora Guamaré fosse conhecida “desde o tempo antigo”, como diziam os historiadores.
Após essa conquista, apresentei à Câmara Municipal de Guamaré para que a tornasse Lei e hoje temos um feriado importante, pois tornou-se um dos municípios mais antigos do Brasil, oficializado pela Lei 377/2007. Espero ter contribuído com minha cidade e que os mais jovens, assim como o Governo local, segurem essa bandeira. Ela é de todos nós. Tenhamos orgulho de ser “guamareenses”.
Para perpetuar essa história, escrevi cinco livros sobre a mesma e estou completando o sexto onde deixo mais um resgate importante para o fortalecimento da nossa identidade. Parabéns, Guamaré. Deus e a Virgem Maria estejam sempre protegendo-a.