A rã e o escorpião na arte da vida humana

A rã e o escorpião na arte da vida humana

Eu era ainda criança quando ouvi pela primeira vez a história do escorpião e a rã, e meu coração puro não me permitia entender como alguém poderia causar mal a uma pessoa que estava apenas lhe auxiliando.

Em várias ocasiões da minha vida, fiz dessa fábula uma reflexão, para finalmente agora entender que uma ação depende de algo muito mais intenso do que simplesmente à vontade ou a força dessa vontade.

Segundo o conto houve um incêndio devastador na floresta, matando centenas de animais, muitos deles carbonizados, outros afogados ao pularem no rio no afã de salvarem suas vidas.

O escorpião avaliou rapidamente os pós e contras enquanto olhava várias rãs que agilmente atravessavam as águas do rio, e, decidiu, então, propor a uma delas que salvasse sua vida.

A rã,  temendo pela sua existência explicou os motivos óbvios pelo qual temia aceitar aquela proposta, afinal, o habitual é que o escorpião a picasse e ambos fossem levados ao óbito.(A tal da evidência).

O escorpião rebateu seu argumento, dizendo que se estava justamente pedindo ajuda para se salvar, como poderia querer matá-la se, invariavelmente, sem ela para lhe levar, ele morreria afogado? (Intenção X Impulso).

Enfim, a rã se convenceu, afinal, não haveria mesmo razões para que o escorpião implorasse pela sua ajuda se tivesse o intuito de matá-la.

(Vemos o outro através do que temos dentro de nós). Tratado o acordo, o aracnídeo subiu nas costas da rã e navegou tranquilamente pelas águas por um período.

De repente, o contato com a pela macia do corpo de sua salvadora, inquietou o escorpião que tentou se distrair observando a rã nadando, a água e a outra margem do rio, onde finalmente estaria seguro.

Mas, algo deu errado “em seus planos”, e em um impulso fora de controle, ergueu sua calda e picou a rã, morrendo os dois afogados. E ele estava à beira de ser salvo…

E assim somos…

Portadores de gestos irracionais, impulsos descontrolados, atitudes impensadas… Tudo parece sem fundamento, apenas ações julgadas como levianas, irresponsáveis, desumanas, mas não é assim…

A maioria dessas atitudes é amparada por um inócuo instinto, ou regidos por dogmas e crenças não questionadas, e também por uma série de heranças, e como toda ela, inerentes.

Mas o inerente pode ser negociável. Ou não?

Bom, o que me alegra nessa fábula é a certeza de que a essência é maior que tudo, não fosse isso, o escorpião não teria matado a rã.

Portanto, resta uma grande esperança para as boas essências humanas, confirmando que o modo como agimos, nem sempre define quem somos, e isso é um alento.

A arte repete a vida, e essa fábula está aí em todo canto.

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